SÍNTESE CONSULTORIA

O Manifesto Ágil

Luís César de Moura Menezes, MSc, PMP

1. Introdução

Muitas pessoas e organizações foram educadas na condução de projetos de uma forma mais tradicional, prescritiva. Esta forma de conduzir projetos, entretanto, era muito criticada, especialmente em empresas de tecnologia da informação, no desenvolvimento de suas soluções.

Várias organizações começaram a criar e a aplicar metodologias de desenvolvimento que rompiam com aqueles modelos tradicionais, com o planejamento em cascata, como era conhecido. A razão disso é que dadas as enormes incertezas no início do desenvolvimento, nada justificava o enorme esforço para definir o que não aconteceria, ou o que seria mudado ao longo do desenvolvimento do projeto.

Este movimento, mais do metodologias de desenvolvimento tem gerado novas formas de se organizar o trabalho e as organizações, hoje denominadas de “ágeis”.

Um dos pontos importantes para o que assistimos hoje está no Manifesto Ágil, do início do século, cujos valores e princípios para Desenvolvimento de Software, foram apresentados em 2001, em Utah.

2. O Manifesto Ágil

O Manifesto Ágil nada mais é que uma declaração de valores e princípios que trazem a essencialidade para o desenvolvimento de softwares.

A origem na área de Tecnologia da Informação foi importante dada a sua permeabilidade em praticamente todas as outras indústrias, seja como meio seja como fim em si mesma. Isto tornou o impacto sensível em diversos outros segmentos.

A transformação digital neste período recente, o crescimento das startups, o desenvolvimento mais acentuado da inovação de maneira estruturada, acentuou ainda mais a necessidade de instrumentos que facilitassem o desenvolvimento de produtos, o desenvolvimento de soluções que flexibilizassem os meios e a produção dos resultados, que cuidassem do engajamento de recursos e promovessem entregas mais rápidas e frequentes, ajustando expectativas existentes.

3. Origem e Valores no Manifesto Ágil

O Manifesto Ágil, como documento, foi escrito em fevereiro de 2001 e firmado por 17 profissionais, que já praticavam métodos distintos dos tradicionais e que foram denominados de “métodos ágeis”. Alguns destes métodos são o XP Extreme Programming, o DSDM Dynamic System Development Method, o Scrum, o FDD Feature Driven Development, por exemplo.

Embora utilizassem abordagens e métodos distintos, as dores manifestas na indústria de Tecnologia da Informação e reportada por aqueles 17 profissionais eram semelhantes. Eles compartilhavam, outrossim, dos mesmos fundamentos.

Aspectos importantes sobre o desenvolvimento de softwares eram colocados a mesa, naquela reunião em 2001, e foi consenso que isso deveria escalar para um outro patamar, público. Nascia aí o Manifesto Ágil.

Decidiram redigir um documento que serviria como orientador aos processos de desenvolvimento de software, em primeira instância. A base no lean era importante, mas eles procuravam traduzir outras demandas específicas da indústria. Assim, o termo “ágil” captava a abordagem pretendida.

O documento em si, o Manifesto Ágil, então redigido, declarava o conjunto de crenças e valores que aquelas 17 pessoas (seus colaboradores e outros relacionados) possuíam.

Ao fazerem um comparativo entre o que existia e o que desejavam e necessitavam priorizar mais, surgiu a tabela a seguir. Nela é possível depreender que, mesmo havendo valor nos itens à direita (documentação abrangente, processos e ferramentas, seguir um plano rígido, negociação de contratos), os métodos ágeis deveriam valorizar mais os itens à esquerda (produto em uso, indivíduos e interação, responder a mudanças, colaboração com o cliente).

São estes os 4 valores presentes no Manifesto Ágil:

1)Indivíduos e interações mais que processos e ferramentas

Importante entender que o desenvolvimento de software por ser uma atividade humana demanda que a qualidade da interação entre as pessoas deve resolver problemas crônicos de comunicação e relacionamento. Processos e ferramentas devem ser simples e úteis.

2)Produto em funcionamento mais que documentação abrangente

A equipe realmente funcionou quando construiu algo, como um software funcionando. Clientes querem o resultado e isso deve ser com software funcionando. Embora a documentação seja importante, deve ser somente a necessária e que agregue valor.

3)Colaboração com o cliente mais que negociação de contratos

Devemos atuar colaborativamente com o cliente. O que deve acontecer é colaboração, tomada de decisões em conjunto e trabalho em equipe, fazendo que todos sejam um só em busca de um objetivo mais do que contratos que forcem algumas situações específicas.

4)Responder a mudanças mais que seguir um plano

O ambiente de desenvolvimento de software e produtos é um ambiente de alta incerteza. Não devemos, por isso, nos debruçar em enormes planos baseados em inúmeras premissas. O que deve ser feito é aprender com as informações e feedbacks e adaptar o plano a todo momento.

4. Princípios do Manifesto Ágil

Os meses que se seguiram foram responsáveis por gerar os princípios do Manifesto Agil. Estes princípios deixam claro o que é, e o que não é ágil.

O Manifesto Ágil baseia-se em 12 princípios e tornou-se uma espécie de guia que orienta as ações, as escolhas de métodos e ferramentas das organizações e dos times ágeis de projetos.

Estes são os 12 princípios do Manifesto Ágil:

1 – Nossa maior prioridade é satisfazer o cliente através da entrega contínua e adiantada de software com valor agregado.

2 – Aceitar mudanças de requisitos, mesmo no fim do desenvolvimento. Processos ágeis se adequam as mudanças, para que o cliente possa tirar vantagens competitivas.

3 – Entregar frequentemente software funcionando, de poucas semanas a poucos meses, com preferência à menor escala de tempo.

4 – Pessoas de negócio e desenvolvedores devem trabalhar, diariamente, em conjunto por todo o projeto.

5 – Construir projetos em torno de indivíduos motivados, dando a eles o ambiente e o suporte necessário e confiando neles para fazer o trabalho.

6 – O método mais eficiente e eficaz de transmitir informações para e entre uma equipe de desenvolvimento é por meio de conversa face a face.

7 – Software funcionando é a medida primária de progresso.

8 – Os processos ágeis promovem desenvolvimento sustentável. Os patrocinadores, desenvolvedores e usuários devem ser capazes de manter um ritmo constante indefinidamente.

9 – Contínua atenção a excelência técnica e bom design aumenta a agilidade.

10 – Simplicidade: a arte de maximizar a quantidade de trabalho não realizado é essencial.

11 – As melhores arquiteturas, requisitos e designs emergem de times auto-organizáveis.

12 – Em intervalos regulares, a equipe reflete sobre como se tornar mais eficaz e então refina e ajusta seu comportamento de acordo.

A Agile Alliance foi uma organização criada para representar o Manifesto Ágil. Sem fins lucrativos promove o conhecimento e as discussões sobre vários métodos ágeis existentes no mundo e reforçar os pilares do Manifesto Ágil.

Cada método ágil existente hoje carrega consigo os valores e princípios presentes no Manifesto Ágil. Empresas como Google, Yahoo, Microsoft e IBM utilizam estes valores e princípios.

Indo além do processos de desenvolvimento de software, outras empresas que produzem outros tipos de produtos, que trabalham com inovação ou em ambientes permeados de incertezas também fazem uso dos princípios e valores do Manifesto Ágil.

5. Conclusões

A importância de um movimento como este não pode ser contestada.

A riqueza em seus valores e princípios se mostra cada vez mais útil ao desenvolvimento de projetos e de operações nas organizações.

Tornar-se mister saber como entender estes elementos e como melhor utilizá-los para o bem, a produtividade e a competitividade de nossas organizações.

 

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